Nessas tardes quentes, o jeito é caminhar cobrindo a cabeça. E isso até divertia o jovem, que brincava com o lenço que lhe protegia do sol.
A paisagem, com poucas árvores, mostrava o cromatismo das flores abundantes. O Filósofo apontou uma flor e chamou a atenção de seu protegido:
– Aqui está a maior lição!
O Discípulo, sem nada entender, permaneceu na expectativa da explicação.
– Bela borboleta, grande ensinamento divino!
Não se agüentando, o rapaz interroga:
– Que lição?
– Ora, filho… A lição da vida eterna em transformação de progresso.
– Com uma borboleta?! – exclama incrédulo o aprendiz.
– Sim, com a borboleta que um dia foi apenas uma larva feia e desajeitada. Quando olhamos as crisálidas nunca imaginamos no que ela se transformará.
– Explica, por favor – roga o jovem, agora curioso.
– Simples, filho… A larva, em determinado momento, solta-se da casca, que morre, para se libertar com as asas coloridas da borboleta. Muda a forma de uma mesma vida, ganhando nova dimensão. Assim, meu caro, acontece conosco…
– Com os homens?
– Com todos nós que morremos homens e continuamos espíritos libertos da casca da matéria – esclarece o Filósofo.
– É… Mas como ter certeza disso?
– Se a borboleta pudesse chegar às irmãs ainda larvas, para mostrar o que elas serão, com certeza também não acreditariam. A ignorância acomodada impede maiores percepções, aquelas que exigem um pouco de esforço em raciocínio lógico.
– Claro… Entretanto, para nós é fácil, porque vemos a larva e a borboleta – retruca o rapaz.
– Por isso, a borboleta é a grande lição da natureza para todos nós, a ensinar que o processo da vida não pára, sempre se renova. Há muito tempo, incomparável Mestre disse que precisamos ter olhos de ver…
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